A entrada de Jesus em Jerusalém, na semana que culminou com a sua crucificação, foi tão marcante quanto as estações do Seu sofrimento na Via Dolorosa.
Literatura oficial da mitologia cristã, os quatro evangelhos canônicos mencionam o dia em que Jesus, no dorso de um jumento, rompeu um dos portões de Jerusalém, sob aplausos e salmos da população, que deitava ao chão seus mantos e ramos de palmeiras para Ele passar.
Esta específica passagem é festejada até hoje no domingo antes da Páscoa, com a denominação de “Domingo de Ramos”.
Quando criança, em Belém/Pa, na véspera do “Domingo de Ramos” meu pai trazia ramos de palmeira para casa e minha mãe fazia uma touceira para ser benta pelo padre, em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Nazará, após uam longa viagem de ônibus.
Após a “Missa de Ramos” voltávamos para casa. Minha mãe fazia do ramo bento uma cruz e a pregava em nossa porta para nos proteger o lar.
Eu acreditava piamente que nada de mal nos aconteceria e tinha o maior cuidado para que a cruz permanecesse no lugar até a próxima procissão, pois era certo que alguma desgraça bateria à porta cuja cruz de ramos bentos desaparecesse.
Exemplos não faltavam: a Dona fulana de tal, comadre da beltrana, morreu de colapso (todas as mortes repentinas eram colapso) porque deixou a cruz de ramos cair de sua porta, ano passado.
Hoje é “Domingo de Ramos”. Eu também não mais vou atrás de palmeiras para receber a benção e, em cruz, por à porta.
Às vezes, ensimesmado, acho que foi uma pena termos perdido tantos rituais e nos quedado a uma realidade quase acachapante.
Nesta horas volta-me sempre à mente Somerset Maugham: “a realidade seria insuportável se não fossem os sonhos...”.